Estar atento
CIDADANIA TOPO DE GAMA.Os jornais de referência não comentam. À cautela, evitam o melindre. Mas o Correio da Manhã escreve: «Guilherme Silva, deputado pelo PSD, recebeu o atestado do colega do PS na vice-presidência do Parlamento, mas admite que nem era preciso tanta justificação. Bastava dizer que estava doente.» Bastava dizer? Isto é uma novidade absoluta, parcialmente justificada, na mesma notícia, por declarações do presidente do Sindicato dos Quadros Técnicos do Estado: «os deputados não são funcionários públicos». A gente sabe que não. Mas então porque carga de água o sindicato meteu o bedelho? Na mesma notícia, diz-se que «o médico que passa um atestado a um funcionário público não é obrigado a escrever no documento se o doente pode ou não sair de casa», deixando implícita a ideia dessa faculdade (sair de casa). Isso não é verdade. Apenas nos atestados médicos do foro psiquiátrico é que tal possibilidade (sair de casa) pode ser admitida. Aliás, ainda na mesma notícia, o bastonário da Ordem dos Médicos não podia ser mais claro: «Nos atestados médicos para os funcionários públicos não é escrita a autorização da saída porque se presume que o doente não sai de casa». Eu sei que um deputado não é um dactilógrafo, e que um vice-presidente da Assembleia da República é, para todos os efeitos, um alto dignitário do Estado. O comportamento deve ser correlato. Porquê o atestado? Se, como afirma o seu cardiologista, Manuel Alegre precisa de repouso, e é de elementar bom senso admitir que sim, devia ter adiado as reuniões do Movimento para daqui a quinze dias. Ou então metia férias. Ou, simplesmente, não dava explicações. Este episódio contribui para dar cabo da cidadania. Ficámos todos a saber que aos deputados basta dizer que estão doentes. Mesmo que, no mesmo dia, seis canais de televisão os mostrem frescos e airosos em reuniões públicas de natureza cívica. O controlo e verificação de «baixas» é só para metecos. Um upgrade de cidadania nunca fez mal a ninguém. No Da Literatura.
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