quarta-feira, 18 de janeiro de 2006

HOJE HÁ CONQUILHAS, AMANHÃ NÃO SABEMOS. "Através de um blog, surgiu a lembrança de uma música popular portuguesa como já não há. A Banda do Casaco editou, entre finais de 1974 e 1977, três discos fundamentais para a nossa música popular.Um deles, do qual se reproduz aqui a capa- bem sugestiva, aliás, dos tempos que correm e que já corriam em 1977- não pode ser reeditado porque se perderam os "masters" originais.O disco, intitulado Hoje há conquilhas, amanhã não sabemos, foi gravado pelo técnico José Fortes, no estúdio da Rádio Triunfo, em 1977 e editado pela Imavox.Segundo uma entrevista, há uns anos, do próprio Nuno Rodrigues ou de António Pinho, os génios da banda, o master original ter-se-á perdido, depois de uma arrematação, por junto, de um lote de bens pertencentes à falência da firma editora ( a Imavox? Ou a Rádio Triunfo em meados dos 80, cujo espólio passou para a Movieplay? ). Alguém saberá do paradeiro das fitas? Fica um dos poemas do primeira disco- Dos benefícios de um vendido no reino dos bonifácios.( título sugestivo e com destino certo na minha intenção...)
É um sujeito é um escritório
uma gravata, um suspensório
uma conversa de latrina
é um verbete, uma aldrabice
é um trabalho, uma chatice
entre fumo e aspirina
É numa rua o pôr do sol
a calçada nas horas de ponta e mola
são conversas de cotovelo
é um eléctrico um pendura
um regresso e uma tontura
é um sorrir muito amarelo
É uma casa uma família
uma torrada um chá de tília
uma conversa de fastídio
é um chinelo e um menino
televisão com o Vitorino
a lentidão de um suicídio
É numa rua o pôr da sola
calçada nas horas de ponta e mola
é um silencio e um ritual
são os lacaios do comendador
são as gravatas sem côr
na procissão dum funeral.

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