28 de Maio.
É uma questão académica, para emoldurar, discutir se o regime moldado por Oliveira Salazar durante quase meio século foi fascista ou não; saber se as suas caracteristicas respeitavam a pureza ideológica do fascismo é, hoje, bizarro e deslocado das preocupações das pessoas. Para além da questão académica, no plano ideológico e político, só meia dúzia de pessoas que gostariam de professar o salazarismo sem que levassem para casa o rótulo de fascistas é que levantam a questão tentando passar pela única nesga possível: o fascismo está, na consciência colectiva, associado ao terror da segunda guerra mundial e Salazar não. Mas a história não se repete. E se alguma vez as sociedades europeias avançarem para regimes ditatorias é porque se criaram condições objectivas para isso. É evidente que esta questão é, também, afectiva: dizer que o fascismo não existiu a quem lutou contra a ditadura e a quem sofreu as suas consequências, mesmo passados estes anos todos, dá vómitos. Porque, na altura, não era uma questão académica.
(Meu caro Luis, não é uma questão de desistir; é uma questão de situar a importância dos problemas com que nos defrontamos).
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