sábado, 27 de maio de 2006

As farmácias, finalmente. Paulo Ferreira, no Público (Sublinhados meus)
«A pergunta que deve ser feita perante o pacote de medidas para o sector das farmácias apresentado ontem pelo primeiro-ministro não é "porquê?", mas antes, "porquê só agora?".
Por que é que um regime de escandalosa protecção de uma corporação, a dos farmacêuticos proprietários de farmácias, demorou 40 anos a ser desmantelado, 30 dos quais passados já em democracia? Por que é que um cidadão pode ser dono de uma clínica médica ou de uma companhia de aviação mas não pode ser dono de uma farmácia?
(...) As questões são apenas retóricas, porque nem João Cordeiro, o presidente da Associação Nacional de Farmácias e primeiro rosto destes interesses, nem qualquer dos governantes das últimas décadas terão respostas plenamente esclarecedoras. Como não têm os deputados que permitiram, durante tanto tempo, que um grupo de algumas centenas de proprietários de farmácias mantivessem protegidos os seus negócios de elevadas margens de comercialização em prejuízo do interesse comum dos cidadãos.
Este é um tema onde há poucos inocentes e que simboliza a forma como se arrastam no país os problemas, não por falta de solução mas por evidente falta de determinação.
(...) As medidas apresentadas ontem pelo Governo, e largamente inspiradas numa recomendação recente da Autoridade da Concorrência, são uma lufada de ar fresco. Mais do que serem essenciais para a competitividade do país, porque o sector farmacêutico tem reduzida importância nesse plano, têm um valor simbólico: as corporações têm que ser combatidas e o interesse geral tem que estar sempre acima de coutadas privadas.
Este é um mérito que tem que ser creditado a José Sócrates, à sua determinação e teimosia. Pode sempre apontar-se uma cedência aqui e ali à ANF, a falta de coragem para ir mais longe na liberalização ou ainda as dúvidas que subsistem sobre a passagem das propostas à prática. Mas isso são apenas detalhes quando a perspectiva é que o panorama do sector mude de forma tão radical e no sentido certo.

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