«Fechou todas as janelas e portas, amarrou raivas nos corações, pôs choros de lágrimas nos olhos. Só mesmo Dina é que ficou, levantando, sacudindo na poeira, no barro da boca e dos olhos, com essa dor grande que lhe dava alegria no mesmo tempo, a bater no peito pisado pelos sapatos. O carro limpou o escuro com os faróis e, na luz amarela que varreu o chão, o velho negro nasceu, os dentes arreganhados para o céu, a boca torcida para trás despejando sangue em cima dos cabelos brancos e a camisa aberta, mostrando o vermelho a correr no buraco do peito com a picareta sem cabo, espetada e suja..Maluca de dor, xinguilando, a berrar, dentes para morder, Dina correu nos polícias, pelejando insultando:- Mataram-lhe! eu vi, mataram-lhe! Filhos da puta!Então, em cima dos seus olhos, uma noite mais negra que a noite que corria lhe tapou nas estrelas e o cassetete arrancou-lhe para longe, para o tempo onde nada lembra. (...)»
José Luandino Vieira, Vidas Novas, 1968
sexta-feira, 19 de maio de 2006
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