Oposição liberal reformista e moderada (II)
«Há uma semana, escrevi aqui sobre a necessidade de uma "oposição liberal moderada", o que é o mesmo que há muito tempo defendo. Escolhi as palavras e a sua ligação, substantivo e adjectivo, com um cuidado guatemalteco, recordando-me do seu poder ilusório, do seu enorme poder porque é ilusório. Escrevi uma "oposição liberal moderada", como podia ter também ter escrito uma "oposição liberal reformista", o que ofende os puristas, e parece querer dizer nada, mas diz bastante. O que não dá, nem eu a procuro, é identidade pelo nome. É liberalismo, mas não é o "liberalismo". É a prática mais do que a doutrina, porque, se houver pulsão liberal, basta-me. Se em cada medida de política se escolher a que mais nos dá liberdade, política, social, económica, cultural, é esse o caminho. É mais facilmente distinguir e escolher assim do que numa discussão doutrinária abstracta. Não me interessa discutir a privatização dos rios, posso bem deixá-la para um longínquo futuro, mas já me importa combater pela saída do Estado dos partidos políticos, das centrais sindicais, das confederações patronais, das companhias de teatro subsidiadas, das "bolsas para escritores", do futebol, dos órgãos de comunicação social, ou seja do negócio da propaganda, do subsídio e da protecção. Feito isto, expulsado o Estado de onde ele não deve estar, nem muito nem pouco, podemos passar para onde ele deve estar minimamente. É que sem Estado mínimo, não há justiça social. O Estado máximo que temos é a melhor garantia de que os recursos escassos serão sempre mais para os que não precisam do que para os que precisam. E é isso que me interessa, não é ter uma camisola com o nome de liberalismo ao peito.E eu acho, certamente com a mesma cegueira daquelas conversas guatemaltecas, que somos bem capazes de distinguir entre uma solução liberal e uma estatista e escolher entre as duas. Se vamos para os dogmas, perdemo-nos; se olharmos para as políticas, achamo-nos. Mais do que liberalismo pela cartilha doutrinária eu quero políticas liberais, vontade liberal, gosto irredutível por todas as liberdades. Se não, no puede ser.»
José Pacheco Pereira, Público 06.07)
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