sábado, 9 de setembro de 2006

Unidos nas Trevas.
(Máscara de mármore branco, feita na Mesopotâmia há 5 mil anos por um artista de Uruc .)
1. Claro que a ilusão de Bush excedeu o concebível. Imaginar que o Iraque (um resíduo heterogéneo do Império Britânico) lhe agradecia em grosso a queda de Saddam; imaginar que faria uma nação de uma sociedade tribal e muçulmana, étnica e religiosamente dividida; ou que o Irão ficava imperturbável perante o espectáculo - não ocorreria, na verdade, ao pior idiota. Infelizmente, a idiotia, apanhada pelo fracasso, foge com facilidade para a ficção. O Iraque "americano", cinco anos depois, não passa de uma ficção: com um governo fictício, uma assembleia fictícia e um exército fictício. Cá em baixo, na terra, há uma guerra civil que Bush se recusa a chamar pelo nome, como se recusar o nome abolisse a coisa. Que dizer? Que o poder não garante inteligência? Verdade. Não garante.
(Vasco Pulido Valente, Uma discussão, Público 09-09-06)
2. É esse olhar, no contexto dos nossos medos mais recentes, que se acende lentamente entre anónimos, acentuando a noção de um pesadelo incontrolável. Bush, Blair, Karzai, Olmert, Ahmadinejad, Musharraf, pairam como fantasmas acima deste magma humano que se entrechoca e cuja lava é o sangue de gente sem nome, até que a morte no-lo revele. É uma guerra de anónimos, unidos por uma vaga de ódios, ressentimentos e dores irreparáveis que lhes fixaram o destino. Mas, provavelmente, será entre eles que devemos procurar alguma luz, a chave de uma paz possível, que redima por uma vez este tempo de trevas que ainda atravessamos.
(Nuno Pacheco, Unidos nas trevas, Público 09-09-06)

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