Lá vai bomba!
Pelas reacções aos ensaios nucleares da Coreia do Norte – da “comunidade internacional”, do “conselho de segurança” da ONU, da “União Europeia”, dos Estados Unidos – percebe-se que ninguém faz a menor ideia como poderá travar os coreanos. Uns falam em “bloqueios marítimos”, outros em “respostas firmes e rápidas” o que vai dar tudo ao mesmo: os efeitos práticos aproximam-se do zero. (Aliás, com o Irão passa-se, com as devidas distâncias, mais ou menos a mesma coisa). Mas, mais que as experiências nucleares (e o perigo que isso representa nas mãos de esquizofrénicos), o que é impressionante é que o regime de Pyongyang (que nos chega através de elucidativas imagens e reportagens) é o estádio elaborado a que chegou o modelo de sociedade defendido pelo Partido Comunista Português. E há muita boa gente que esquece isso, sobretudo pelo facto dos comunistas portugueses se situarem, eleitoralmente falando, dentro dos limites de segurança. A propósito, recordo a badalada entrevista de Bernardino Soares ao DN, em Fevereiro de 2003:
DN: Consideraria que na Coreia do Norte vigora um regime comunista?
BS: Temos falado nisso em vários congressos... julgo que o que caracteriza a questão do Coreia do Norte, neste momento, é a difícil apreensão do que se passa, de facto, naquele país.
DN: Difícil apreensão? Os dados que dispõe não são suficientes para poder dizer, por exemplo, se a Coreia do Norte é uma democracia?
BS: Tenho muitas reservas em relação à filtragem da informação feita pelas agências internacionais.
DN: Ao ponto de não poder dizer se o país é democrático?
BS: Sim. Tenho dúvidas que não seja uma democracia.
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