Cheguei ao aeroporto de Lisboa ao fim da manhã. Era Novembro e um sol outonal enchia a cidade em dia de S. Martinho, contrastando com a chuva miudinha e irritante que me acinzentara os três dias que, por dever de ofício, passara em Londres. Apressado, apanhei um táxi para a Rua de S. Bento. Mal iniciámos a marcha, disse ao taxista, à laia de meter conversa: - que dia bonito! Respondeu-me, prontamente, com ar de censura, como a querer contrariar-me, olhando pelo retrovisor: – Para quem trabalha os dias são todos iguais. Depois de uns segundos de silêncio, retorqui: - Não seja tão amargo com a vida. Mesmo para quem trabalha há dias bonitos. Meu amigo – disse-me, num tom de voz menos agreste, olhando-me sempre através do retrovisor – Vou fazer um desabafo: eu estou amargo, é verdade. E sabe porquê? Destruíram-me a minha vivenda. Você sabe o que é isso? Destruírem a casinha onde eu vivi durante vinte e cinco anos? Não sabe. De certeza que não sabe, por isso diz que o dia está bonito. (Continua)
domingo, 1 de outubro de 2006
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