segunda-feira, 2 de outubro de 2006

Reinaldo Arenas e a Direita.

Este fim-de-semana, talvez porque se realizavam eleições no Brasil, talvez porque se avizinhavam as primeiras chuvas, iniciei a (re) leitura de El Color del Verano de Reinaldo Arenas. Li pela primeira vez Arenas, já aqui o escrevi, em 1992: Antes que anochezca, editado nesse ano pela Tusquets. Comprei-o no Aeroporto de Madrid, enquanto aguardava o avião com destino a Cuba. Meia dúzia de dias depois, li nas esplanadas do Hotel Nacional, em Havana, Celestino antes da alba, Edições Union, Havana, 1967 – única edição cubana, esgotada em menos de um mês – com uma dedicatória de Arenas. Por estes dias, tinha adquirido esta preciosidade, nos “subterrâneos” de La Habana Vieja, em troca do livro recentemente publicado e que, pela minha mão, devia ser o primeiro exemplar a entrar na ilha. (Aliás, conto esta história, mais ficção, menos ficção no romance “O General…). Li durante esse ano toda a obra de Reinaldo Arenas. Nesta (re) leitura veio-me à memória como a Direita o citou a propósito da doença de Castro (o texto publicado no El País em 7 de Agosto de 2006 - Elogio a Fidel Castro) , a ele, um homem de esquerda, até teria dado voltas no túmulo. A assumida homossexualidade de Arenas e o seu estilo desalinhado e irreverente deu-lhes tantos problemas em Cuba, como nos Estados Unidos ou noutros países ocidentais. Dedico, pois, aos meus amigos de Direita que por ignorância ou devaneio o citaram a transcrição do que o próprio escreveu: “Dizia Rama nesse artigo que era um erro eu ter abandonado o país, porque tudo era devido a um problema burocrático; agora estaria condenado ao ostracismo. Tudo aquilo era extremamente cínico; além do mais, era ridículo, aplicado a alguém que desde 1967 não publicava nada em Cuba e tinha sofrido a repressão e a prisão dentro daquele país, onde, aí sim, estava condenado ao ostracismo. Compreendi que a guerra começava outra vez, mas agora sobre uma forma muito mais disfarçada; menos terrível do que a que Fidel Castro travava contra os intelectuais em Cuba, embora nem por isso menos sinistra. Nada daquilo me apanhou de surpresa; eu sabia já que o sistema capitalista era também um sistema sórdido e mercantilizado. Já numa das minhas declarações depois de sair de Cuba dissera “ A diferença entre o sistema comunista e o capitalista é que, embora ambos nos dêem um pontapé no cu, no comunismo dão-no-lo e temos de aplaudir, e no capitalismo podemos gritar; eu vim para gritar.” A Direita tem que conhecer melhor quem cita.

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