INCOERÊNCIA DESAVERGONHADA.
Há gente para quem o Estado devia interferir em tudo o que mexe na sociedade. Rejubilaram com as “nacionalizações” em 1975 e sempre espernearam quando se privatizaram as empresas então nacionalizadas. (Ainda hoje lhe brilham os olhos e batem palmas quando, na Bolívia, Evo Morales decreta a nacionalização dos sectores energéticos ou expropria terras na mira de uma “reforma agrária”.) Para eles, a iniciativa privada na economia devia cingir-se aos vendedores de castanhas e pouco mais. Como em Cuba – regime que defendem (às vezes às escondidas, outras vezes abertamente) – em que o Estado é proprietários de todos os meios de produção, controla e vigia o comportamento de todos os cidadãos. É esta gente que, quando lhes convém, se dá ao despudorado luxo de escrever: “A guerra contra o véu é antiliberal. Dá ao Estado o direito de decidir como cada um se veste e se comporta.” (Daniel Oliveira, Expresso de 25.11.06). Para além de se armarem em “liberais” apenas quando lhes dá jeito ainda querem esconder a questão essencial: as mulheres árabes não decidem como se devem vestir: é o Estado quem decide, em primeira linha, depois os “chefes” das instituições religiosas (que nalguns casos são os mesmos) e, finalmente, os homens da família. Esta cadeia repressiva não preocupa minimamente os nossos “liberais” caviar porque está dentro dos seus esquemas mentais. Esta gente ignora os dramas pessoais de milhares de jovens raparigas árabes na França, na Holanda ou na Alemanha, que desejam ir para a escola com as mesmas vestes das suas colegas, ir aos bares ou jogar ténis com a mesma naturalidade que elas, terem um namorado europeu. Mas nada disso lhes é permitido pela família. A jovem rapariga árabe na Europa é obrigada a vestir-se como se veste, a sair onde lhe permitem e a namorar quem os pais decidem. É da liberdade de ela, a rapariga árabe, poder escolher que estamos a falar. A cultura democrática europeia deve proibir a proibição.
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