quinta-feira, 30 de novembro de 2006

MEMÓRIAS.

Sempre que leio este senhor lembro-me de um delicioso pequeno episódio passado em Porto Alegre, em finais de Agosto de 2001. Numa reunião preparatória do Fórum Social Mundial de 2002, que se realizou em de Porto Alegre, tal como o de 2001, Boaventura botou discurso a convite da organização. Apresentado à assistência como uma “sumidade”, durante mais de uma hora falou sobre nada. Literalmente. Mas, disse para com os meus botões: isto é o que tu pensas, talvez esteja a ver mal. Quando o senhor acabou de falar, com a sala a bater palmas efusivamente, o uruguaio sentado ao meu lado, perguntou-me: ele falou sobre o quê? Afinal, não estava errado. No dia seguinte, numa outra reunião, chamei reaccionário a Miguel Portas, também presente, sob o olhar incrédulo de Tarso Genro, perfeito de Porto Alegre na altura, que deve ter achado que, ali, era suposto sermos todos “irmãos” e, por isso, não deviam estarem presentes reaccionários. Ou eu estava enganado ou ele, que o convidara, estava enganado. Depois da reunião todos os presentes, na sua maioria latino-americanos, muitos deles me conheciam há anos, me pediam esclarecimentos completares sobre o reaccionário, solicitações a que não me fiz rogado. Perante o pequeno episódio, embaraçoso, tive um momento de fraqueza: no jantar que se seguiu à reunião, para descansar toda aquela gente, sentei-me à mesa, a sós, com o Miguel Portas. Recordo-me bem do que falámos (ficará para outra altura) e sei que o tempo me deu razão. Mas sei que aquela conversa ao jantar, a sós na mesma mesa, diante de toda a gente, desvalorizou o ter-lhe chamado publicamente, na reunião, com toda a legitimidade, reaccionário.

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