sexta-feira, 3 de novembro de 2006

Os profissionais.

Raul Vaz escreveu hoje no Jornal de Negócios, citando José António Saraiva, sobre o último candidato à Câmara de Lisboa do partido socialista e actual vereador, Manuel Maria Carrilho. Uma das questões versava sobre a publicação das fotos do seu casamento com a senhora D. Bárbara. Coisa pouco relevante, sobretudo tendo em consideração o estilo a que o ex-ministro da Cultura nos habituou. A outra questão, piava mais fino. Tratava-se de uma citação de um outro vereador do partido socialista, o número dois, Nuno Gaioso Ribeiro, a qual transcrevo: "A liderança do professor Carrilho tem sido ausente e displicente. Tem tido um comportamento político irresponsável. No todo, deve ter participado em cerca de um terço das propostas totais da CML. (?) Durante um período achei que era uma questão conjuntural. Mas ao fim de um ano passa a ser estrutural. O meu silêncio foi de alguma paciência, mas a certa altura passaria a ser de cumplicidade". Para uma correcta interpretação desta tomada de posição deve ser levado em linha de conta o que foi notícia na altura da formação das listas: o professor Carrilho exigiu que o número dois da lista de candidatos à Câmara de Lisboa fosse uma pessoa da sua inteira confiança pessoal e política. E, por isso, escolheu Nuno Gaioso Ribeiro, contra a opinião dos putativos candidatos concelhios a tal cargo. A avisada perspicácia política do professor de filosofia, sobejamente demonstrada durante a campanha eleitoral, aconselhava-o a não aceitar como número dois da lista alguém indicado pela “concelhia”. Pensava cobrir, assim, as costas de qualquer pequena (ou grande) facada. Nuno Gaioso Ribeiro era uma espécie de colete à prova de bala. Mas, acontece: há coletes destes com defeito de fabrico. Passemos à frente: como desfecho previsível deste intrincado imbróglio, em Novembro de 2005, a “concelhia”, pela voz autorizada do seu vice-presidente, Dias Baptista, segundo reza um despacho da Lusa, retirou a confiança política a Carrilho e a Gaioso. E cito o dito despacho: “A concelhia de Lisboa do PS vai retirar a confiança política a Manuel Maria Carrilho, o seu candidato derrotado nas eleições autárquicas de Outubro, disse hoje à agência Lusa o vereador socialista Dias Baptista. O também vice-presidente do PS/Lisboa afirmou que a decisão de retirar a confiança política ao ex-ministro da Cultura de António Guterres «será também aplicada ao vereador Nuno Gaioso Ribeiro», que, nas últimas eleições autárquicas, foi o «número dois» da lista do partido concorrente à Câmara Municipal da capital. Nos próximos dias, esses vereadores vão receber do PS/Lisboa uma carta a explicar detalhadamente os motivos que nos levam a retirar-lhes a confiança política – acrescentou Dias Baptista”. Parecia, pois, que o assunto estava resolvido: os dois candidatos que não tinham sido escolhidos pela “concelhia” tinham perdido a confiança política daquela estrutura partidária. Puro engano: as declarações de Gaioso Ribeiro sobre a prestação de Carrilho como vereador municipal vieram acrescentar outros episódios picantes, como nas telenovelas brasileiras. Afinal, a “concelhia”, num gesto magnânimo, volta a atribuir a Carrilho a confiança política que antes lhe tinha retirado (ainda não entendi bem o que é isto da “confiança política”, mas entendo como uma espécie de diploma de servilismo.) e a retirar a Gaioso Ribeiro a confiança política que já lhe tinha sido retirada em Novembro de 2005 (ora, aqui também, não entendo como se pode retirar a confiança a quem já não é de confiança). Mas, posso dar de barato, toda esta complexa luta de pequenos e mesquinhos interesses. Agora, a fazer fé no que li no Portugal Diário de hoje, fico sinceramente preocupado. Cito:" O PS vai impedir Nuno Gaioso Ribeiro de participar nas reuniões de vereação e ao mesmo tempo irá retirar-lhe o apoio do gabinete socialista na Câmara de Lisboa”. Não entendo, nem poderia entender. Ainda há dois meses o PS, pela voz de Vítor Ramalho, dizia a propósito da imposição do PCP na substituição do presidente da Câmara de Setúbal que se tratava de “um golpe anti-democrático e revelava um total desrespeito pela vontade dos eleitores”. Aguardo a todo o momento um desmentido da "concelhia" do PS de Lisboa porque não quero acreditar que tenham decidido impedir um vereador de exercer o mandato para o qual foi eleito pelo povo de Lisboa.
PS. Dou também de barato o regozijo de Carmona Rodrigues e da sua equipa com todos estes jogos de salão.
(Foto daqui.)

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