terça-feira, 26 de dezembro de 2006

Livros (2) A editora Campo de Letras acaba de editar Fidel Castro, biografia a duas vozes, de Ignacio Ramonet, director do Le Monde Diplomatique e um dos promotores do Fórum Social Mundial. É a síntese de um homem e de uma revolução feita a pensar na posteridade. Uma leitura indispensável a castristas e anti-castristas. Nas mais de 600 páginas que traduzem 100 horas de conversa, Castro responde a tudo o que há para responder: desde José Martí até ao futuro do socialismo depois da queda do muro de Berlim e à sua sucessão. Nas palavras de Castro não há uma centelha de lucidez política, mas há dogmas e muita, muita fé. É um crente. Ele crê em Marx, Engels e Lenine com tanta convicção(?) que ficamos sem saber se é apenas um vulgar mentiroso. Ele diz, por exemplo, entre muitos outros exemplos, esta pérola: “Não há que medir as nossas eleições pelo número de votos. Eu meço-as pela profundidade dos sentimentos, do calor. Nunca vi os rostos tão cheios de esperança, com tanto orgulho. (…) As ideias que nós defendemos são, desde há muito tempo, as ideias de todo o povo.” (Página 560). Quando fala nas duas guerras de Angola, onde chegaram a estar 55 mil cubanos, deturpa os factos e os protagonistas para ficar bem na fotografia. Em meia hora de conversa sobre a decisiva batalha de Cuíto-Cunavale, o ditador não consegue pronunciar o nome do General Arnaldo Ochoa, (1) o homem que dirigiu essa batalha, e que foi fuzilado, em Havana, ao alvorecer de um dia de verão de 1989 por ordem directa do ditador. Nas últimas páginas, quando se aborda a sua sucessão e o futuro do “socialismo” em Cuba, percebe-se que se sente um náufrago que fala como quem sabe que nunca atingirá terra firme. (1) “o lado angolano/cubano era chefiado pelo lendário General Arnaldo Ochoa Sanchez, uma figura heróica invencível para os soldados cubanos no local, ultrapassada apenas por Fidel castro. Nas semanas de luta acesa que se seguiram, não só impediram os avanços dos sul-africanos como os derrotaram tão definitivamente que Cuíto Cunavale se tronou um símbolo por todo o continente de que o apartheid e o seu exército já não eram invencíveis.” Victoria Brittan, A guerra civil em Angola.

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