domingo, 21 de janeiro de 2007

Liberalizar ou despenalizar?

Não há maneira de escapar ao debate sobre a despenalização do aborto. Pelo menos até dia 11 de Fevereiro. Contudo, nestas últimas duas semanas, observo algumas alterações: a onda da liberalização do aborto, protagonizada pela ala radical pequena burguesa de fachada socialista (esta frase assenta que nem luva de pelica a certas pessoas) dos apoiantes do SIM, que parecia dominar ideologicamente, está a perder espaço para os defensores da despenalização. Pelo que vou lendo e ouvindo já começa a fazer escola a tese de que ninguém quer a liberalização do aborto, mas sim a sua despenalização. Outra tese que se começa a ouvir e a ganhar espaço é a seguinte: no quadro da actual lei (ou caso o Não vença) nenhuma mulher de classe média (e daqui para cima) será minimamente prejudicada. Em caso de necessidade mete-se no carro e vai até Badajoz (é mais perto de Lisboa do que do Porto ou de Faro, como o Porto é mais perto de Vigo do que de Lisboa e Sevilha mais perto de Faro do que de Lisboa). A despenalização do aborto é indispensável para as mulheres que nem sequer a Badajoz podem ir e que não têm alternativa senão correrem o risco de perderem a vida num “vão de escada” ou, se sobreviverem, irem malhar no calaboiço. E por estas eu voto SIM. A dúvida que se adensa, caso o SIM vença, como espero, é se tudo isto não fica de pernas para o ar. Ou seja, proliferem as clínicas para evitarem a ida a Badajoz para resolver os problemas de quem hoje não precisa, mas o SNS não responda satisfatoriamente a quem precisa, empurrando como hoje para o “vão de escada” e para a prisão sempre as mesmas. Se o SIM vencer, a partir de 11 de Fevereiro, inicia-se a verdadeira luta: o cumprimento da lei no SNS. A ver vamos!

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