Um país à beira de um ataque de nervos (1)
Hoje decidi fazer uma manhã relaxante: às 9 da manhã, mais minuto menos minuto, bebi o primeiro café no Afonso, em Mora. Depois fui até Pavia vaguear pelas ruas quase desertas. Às 11 e pouco estava a beber o segundo café em Avis. Aqui, detive-me na leitura de um jornal local – A Ponte – abandonado na mesa do lado. A chamada de primeira página prometia: Padre Francisco Pacheco em entrevista: «O maior problema em Avis é a infedilidade». Ainda pensei que "infedilidade" podia não ser uma gralha e tratar-se de qualquer fenómeno social que a minha ignorância não atingia. Curioso, peguei no jornal. Nas páginas interiores constatei que se tratava mesmo de uma gralha na primeira página: na opinião do pároco, era mesmo a infidelidade o principal problema de Avis. Levantei os olhos do jornal para fixar os rostos dos 3 presentes, incluindo o empregado (ou o patrão?) atrás do balcão. Não descortinei sinais notórios de quem tinha saído da cama de uma amante. Aqui, em Avis, o maior problema não é o desemprego? Não é a falta de um hospital ou de uma maternidade? Não é a crise? - Palavra abrangente que dá para tudo. Não! O senhor padre era muito claro na entrevista: “infidelidade, divórcios… em 2005 não houve nem sequer um casamento quer pela Igreja, quer no civil, na freguesia de Avis. As pessoas estão a ir para a união de facto”. Toda a entrevista revela um padre amargurado, sem auditório: “Avis é uma seara muito estéril, muito sequiosa, que não quer receber a força da água para beber.” – Queixava-se o pároco. Já a sair de Avis em direcção a Alter do Chão, interroguei-me: o que será a infidelidade na cabeça de um padre celibatário?
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