terça-feira, 6 de março de 2007

A manif. (ou a arte de desconversar).

(Manifestação de tanques soviéticos nas ruas de Budapeste, em1956)
Vítor Dias voltou ao assunto da manif e considera que, quando referi (na resposta ao seu primeiro post ) aquilo que nos distancia, como premissa para situar a minha interpretação da manifestação de sexta-feira passada, a qual reuniu mais de 120 000 pessoas nas ruas de Lisboa, apenas usei a “suprema arte de desconversar”. Mas, no meu modesto entender, “desconversar” é o essencial; “conversar” é o acessório. Ou seja, o meu “desconversar” pretendeu apenas distinguir os regimes democráticos dos regimes não democráticos como duas vias diferentes de atingir o objectivo supremo: o direito ao bem estar e à felicidade de todas as pessoas. Ora, esta distinção nada tem a ver com “insinuações caluniosas”, mas com factos e realidades: assenta num critério de avaliação (pluri-partidarismo versus partido único, com todas as consequências daí decorrentes). Mas, vamos então à questão que Vítor Dias coloca: estou certo que o partido socialista, enquanto partido que apoia o actual governo, numa situação limite, caso a democracia estivesse em causa, seria capaz de mobilizar os portugueses em sua defesa. Já o provou com sucesso no passado. Estou apenas a lembrar-me da Fonte Luminosa. Lembra-se Vítor Dias? E a Unicidade Sindical? – Também deve ter memória desses momentos em que o partido socialista teve de defender a democracia na rua? Mas, no quadro de uma democracia estável, o partido socialista não tem motivos para “referendar” a sua política governativa através de manifestações de apoio. Daí ter referido que essas manifestações de apoio ao governo terem acabado com o 25 de Abril. O partido socialista aguarda com serenidade as eleições, onde todos os portugueses que querem manifestam a sua opinião (por isso escrevi cada português um voto) e não apenas 1% ou 2% dos portugueses, como acontece nas manifestações “contra as políticas de direita do governo”. Termino da mesma forma: todas as formas de exercício da liberdade, em que as manifestações de rua se integram, como a de sexta-feira, são uma prova de vitalidade da democracia. Valem o que valem e representam o que representam. Apenas isso. No quadro de uma democracia 2% dos portugueses não podem pôr em causa a decisão de uma larga maioria. Tenho pena, mas citando Alexandre Soares Silva, direi: é estranho, também não sei explicar, mas continuo escrevendo aquilo que eu penso, e não aquilo que você pensa. É tudo!

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