sábado, 3 de março de 2007

A manif.

Caro Vítor Dias: Começo por lhe dizer, em resposta ao seu post, uma evidência para ambos: temos concepções do mundo diferentes. O Vítor, presumo, está convencido que, na defunta União Soviética, existiu a mais perfeita democracia jamais alcançada pela humanidade, como escreveu no Avante, de 1 de Março, o seu camarada Leandro Martins. Eu, pelo contrário, entendo a democracia, a liberdade, o pluralismo de modo diferente – em sentido oposto, acrescento. Podem benzê-lo como quiserem, mas qualquer regime de partido único é uma ditadura. Seja em Portugal, seja em Cuba. Não há nada a fazer: é a lógica da batata. Por isso, cada um de nós é engraçadinho à sua maneira. Um – o Vítor – a defender os regimes de partido único (essa defesa é bem clara hoje na Venezuela); ou outro – eu – a defender os regimes democráticos pluri-partidários. E é a partir destas premissas que escrevi a minha “graça”, ou seja: em democracia a cada cabeça corresponde uma opinião, um sentir, um voto. E não há “vanguardas operárias” que pensem por cada um de nós. Ora, uma manifestação de 120 000 portugueses contra as políticas do governo, promovida pelo PCP, vale o que vale. Vale exactamente, tal como escrevi, um quarto dos fiéis eleitores do PCP, o qual tem um valor eleitoral baixo e que, ainda por cima, corre o risco de vir a ser ultrapassado pela extrema-esquerda bloquista. O Governo deverá interpretar, como melhor entender, esse sinal, essa manifestação. Apenas isso. Não vale apenas embandeirar em arco porque nem a política do Governo se vai alterar na substância, nem o PCP vai crescer eleitoralmente nos próximos actos eleitorais. A “graça” tem apenas a ver com isso: integrar a manifestação nos mecanismo do sistema democrático por oposição a entendimentos anti-democráticos que, em regra, se estão borrifando para os interesses de quem trabalha. Querem apenas criar condições para debilitar os regimes democráticos porque gostam mais de regimes de partido único. Quanto às manifestações de apoio ao Governo, com centenas de autocarros pagos, acabaram com o 25 de Abril. E é aí que reside uma importante diferença entre duas concepções do mundo: os governos eleitos democraticamente aguardam serenamente pelo julgamento eleitoral. Não se legitimam com manisfestações, mas com eleições. Paciência. É a democracia, onde nos podemos manifestar contra o Governo legitimamente eleito, ao contrário das ditaduras onde apenas nos podemos manifestar a favor do Governo.

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