Citações.
Extracto de Clinton, Sócrates e os media, de Teresa de Sousa, Público de 18.04.07.. (Sublinhados meus).
«Acompanhando com alguma atenção o essencial do caso que domina, nos últimos tempos, a vida nacional, direi que, quando tudo isto se começou a avolumar e quando muita gente começou a ter a boca cheia da palavra "carácter", me veio inevitavelmente à mente o caso do Presidente Bill Clinton. O último, quero dizer, porque houve vários. O chamado "caso Lewinsky". Durante meses a fio, a imprensa, incluindo a de qualidade, concentrou os seus recursos e o seu espaço noticioso no caso. Deixou de haver mundo para lá das mentiras do Presidente sobre as suas relações com a célebre estagiária da Casa Branca. A imprensa arrasou-o. Os republicanos agarraram o osso e nunca mais o quiseram largar até à tentativa de impeachment. A direita religiosa e conservadora aproveitou para se vingar de um Presidente que representava tudo aquilo que ela odiava. O procurador Kenneth Starr transformou-se num símbolo da moral pública. Cada um fez o seu juízo do Presidente americano. Eu fiz o meu e devo confessar que não mudei de opinião, mesmo perante a palavra "perjúrio". Já na altura estava convencida que ele era um grande Presidente para os americanos e para o mundo, em geral. Hoje acho precisamente o mesmo (eu e mais 70 por cento dos americanos e muito boa gente que dizia dele cobras e lagartos). Mas a verdade é que a segunda metade do seu segundo mandato ficou afectada pelo escândalo. A imprensa e a oposição quase não o deixavam respirar. Tudo o que ele fazia ou decidia era interpretado lewinskianamente. Por exemplo, quando decidiu bombardear uma base da Al-Qaeda no Afeganistão depois dos atentados contra as embaixadas americanas em África, muita gente achou por bem dizer que era para desviar as atenções. Perdeu tempo e energias, o que ajudou George W. Bush a ganhar as eleições e foi o que se tem visto. (...)
Mas não há nada pior do que transformar a moral e o carácter em noções abstractas que alguns iluminados têm o direito de definir. Não há nada pior do que a república dos impolutos e dos justiceiros.»
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