segunda-feira, 11 de junho de 2007

O aeroporto do nosso descontentamento.

A localização do novo aeroporto de Lisboa é uma história antiga, como todos sabemos. Os primeiros estudos datam da década de 60 do século passado e, desde aí, há quase meio século, outras «prioridades» encafuaram no fundo das gavetas ministeriais os sucessivos estudos e, bem à portuguesa, remeteram para as calendas qualquer decisão. Há 8 anos, o governo de António Guterres quebrou o enguiço e decidiu-se pela Ota como a localização possível, pesando nessa escolha os inconvenientes, sobretudo ambientais, das outras alternativas consideradas. Guterres não se aguentou o tempo suficiente para concretizar a decisão. (E ainda bem porque na altura a decisão parecia pacífica). Seguiu-se Durão Barroso – o homem da tanga – que logo à chegada, usando a demagogia própria de quem lhe deu a formação política na juventude (muito usada ainda hoje por Saldanha Sanches, por exemplo), disse qualquer coisa do género: «não há novo aeroporto enquanto uma criança estiver em filas de espera nos hospitais». Sócrates, uma vez eleito, agarrou na decisão de 1999 e queria concretizá-la. Sem mais. Não levou em conta dois aspectos negativos da escolha susceptíveis de fundamentada contestação: a distância de Lisboa e as características físicas do local escolhido. Na defesa da Ota, Mário Lino tem ajudado, em vários momentos, o movimento «anti-Ota». Por estes dias surgiu a alternativa de Alcochete. À primeira vista é uma localização que parece merecer um consenso alargado, na medida em que supera os dois aspectos mais negativos da Ota (de fora, para já, estão uns «puristas» que já falam nas desgraçadinhas das aves que vão ser incomodadas e no porco preto que deixará de comer as bolotas dos sobreiros a abater). Na sequência, Mário Lino anunciou hoje que o governo se compromete a, nos próximos seis meses, não tomar qualquer decisão irreversível relativamente à Ota. É um passo importante para o abandono da desastrosa decisão de localizar na Ota o novo aeroporto de Lisboa. Para além do mais, a genética inabilidade política de Marques Mendes ao «escolher» Poceirão como alternativa, permite sem grandes custos políticos para o governo a escolha de Alcochete. Espero que a posição que o governo assumiu hoje, pela boca de Mário Lino, não esteja ferida de «reserva mental», ou seja, sirva apenas para daqui a seis meses vir dizer com ar cândido: «como nós dizíamos, não há outra solução a não ser a Ota. O «deserto» da margem sul do Tejo tem muitos problemas ambientais». Se isto acontecer, quem vai ter problemas «ambientais» é o governo.
(Este texto tem um pressuposto que para mim ainda não está adquirido: a Portela não é solução).

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