a gastronomia é uma arte.
A Isabel, pelos vistos, foge a sete pés da arte gastronómica; enquanto o Eduardo, como bom gourmet, e para não desfazer a cadeia, sugere requintados pratos de Verão. Gosto mais de cozinhar do que «comer fora», mas cozinhar exige 3 requisitos: a) tempo, todo o tempo necessário (nada pior do que o lume forte porque se está com pressa, por exemplo); b) «trabalhar» com produtos de qualidade e, de preferência, frescos (usar num refogado umas lascas de toucinho de porco preto adquirido num talho não é o mesmo do que usar um toucinho que se retira de uma embalagem de plástico, «fechada em vácuo, sem corantes, nem conservantes»; c) não ser uma obrigação, mas um prazer: cozinhar só pode ser encarado como criar uma obra de arte, como pintar uma tela, como tocar saxofone. Ou, porque não, como quem faz amor. Posto isto nestes termos, avanço para as minhas últimas refeições.
No Domingo, o almoço foi no Afonso, em Mora. Um arroz de lebre que fica na memória durante semanas. Regado com Quinta do Carmo reserva 2001. À noite, em casa, um daqueles pratos que me saem sempre bem: pargo no forno com ervas aromáticas (Não se deixem levar por essa «etiqueta politicamente correcta» do vinho tinto para a carne e do vinho branco para o peixe. Há vinhos tinto que o peixe e o paladar agradecem). Na segunda-feira, um almoço de trabalho no Solar dos Nunes, na Rua dos Lusíadas: para além da entrada – salada de fígado de porco preto – um ensopado de eirózes à Porto Alto. À noite, o melhor bife de Lisboa, no Café de S. Bento. Aqui, o Marquês de Borba fez as honras da casa. Hoje ao almoço, de novo em casa, o prato que todos os meus amigos me dizem quando os convido: não é outra vez ervilhas com ovos escalfados? Mas as «minhas» ervilhas com ovos escalfados têm um requinte: a água para a cozedura é substituída pelo caldo de uma farinheira. E pronto. Não comer muito é uma coisa, mas comer mal é outra. De qualquer forma, continuo a seguir o sábio conselho da minha mãe: quem não é para comer, não é para trabalhar.