segunda-feira, 9 de julho de 2007

O desassossego dos órfãos que sofrem pesadelos e acordam a pensar que vivem em ditadura.

O pessoal de direita não se sente lá muito bem. E com razão. Está órfão de pai e mãe, o que não é coisa fácil. E as desilusões sucedem-se vertiginosamente, umas atrás das outras. Luta desesperadamente para ver os «seus» governar Portugal, mas não lhes sai nada. É como no euromilhões: só sai aos outros. Acalentou a esperança de dias melhores quando, numa noite fria de Dezembro de 2001, inesperadamente, António Guterres bateu a asa. Mas, a sorte foi madrasta. Saiu-lhe um prémio pequeno, quase desprezível: Durão Barroso (a quem não podia perdoar o facto de ter sido, enquanto jovem, um discípulo de Arnaldo Matos e Saldanha Sanches) e Paulo Portas (que tinha sido um dos coveiro do «cavaquismo»). Do mal, o menos. E o mal seria os socialistas estarem no governo. Já antes, outros tinham engolido sapos. Não eram, pois, os primeiros. Eis senão quando o céu caiu em cima das suas imaculadas cabeças. Durão foi tratar «da vida» para outro lado e deixou a «coisa pública» entrega a Santana Lopes. Sentiram-se traídos e envergonhados. O descalabro bateu à porta de tal forma forte que deu aos socialistas a sua primeira maioria absoluta. Restava ainda uma réstia de esperança: a vitória de Cavaco Silva nas presidenciais. Cavaco – o «cavaquismo» em pessoa – meteria rapidamente os socialistas na ordem. Governaria o país. Despedia os socialistas assim que aparecesse a primeira oportunidade (Jorge Sampaio já tinha dado o exemplo ao despedir uma «maioria absoluta»). Ainda pensaram que o discurso da tomada de posse de Cavaco continha a «génese» dos seus desejos. Mas, cedo perderam o pai: Cavaco numa entrevista televisiva, disse, traduzindo para linguagem de café: «Deixem-se de merdas. O País está mal e este governo está a fazer o que é necessário». Ficaram entregues, como estão agora, a Marques Mendes e a Paulo Portas. Compreendo o desconforto. Compreendo a orfandade. Mas não precisavam de se desorientarem ao ponto de copiarem os comunistas: «aí vem o fascismo». ou «Sócrates é um ditador». Não estou a inventar, a paranóia chegou ao ponto de alguém que reclama o estatuto de jornalista escrever «Temo a falta de isenção da justiça, claramente servil ao poder político e ao ditador Sócrates.» porque a directora de um museu apresentou uma queixa-crime por se sentir ofendida contra um (ou vários) escritos do senhor. Felizmente, estamos em democracia e num Estado de direito. Temos a liberdade de apontar o dedo ao poder quando ultrapassa os limites da lei ou do bom senso - coisa que qualquer democrata deve sempre fazer - da mesma forma que uma cidadã que se sente injuriada pode utilizar os tribunais em defesa do seu bom nome ou da sua honra. Alguma direita perdeu a cabeça e, por ironia, quer ultrapassar os comunistas na treta de que o «fascismo» está aí. Mas, sejamos sinceros: os socialistas não têm culpa que a direita tenha entregue os seus combates políticos a Marques Mendes e a Paulo Portas. Ou será que têm e isto é tudo um grande «complot»?