Bloco de Esquerda – Um partido transgénico.
O Bloco de Esquerda é um partido comunista, radical, de extrema-esquerda, «geneticamente modificado» pelos seus dirigentes, a fim de enganar os incautos e crescer num meio adverso, pejado de «insectos» e «vírus»: a «democracia burguesa» - a ordem, sobretudo económica e jurídica, imposta pelo capitalismo à classe operária e a todos os trabalhadores.
O PCP tem o mérito de ser geneticamente puro. Assume às claras para onde quer ir. Segue o pensamento de Marx, Engels, Lenine, Staline e Cunhal e tem um modelo de «sociedade socialista» – já praticado nas Repúblicas Soviéticas – para onde nos quer levar: o partido único, o Estado detentor de todos os meios de produção, a lei e a ordem da «classe operária». O PCP não esconde esse propósito. A próxima Festa do Avante é uma homenagem à Revolução Soviética de 1917.
Ao invés, o Bloco de Esquerda, ala radical do Partido Comunista, é um transgénico. Depois de anos e anos a lutarem em vão por um lugar no Parlamento, assumindo-se como comunistas radicais (quer de tendência trotskista – o PSR, quer maoista – o PC(R)/UDP)) ou a escola dos velhos comunistas – a Política XXI, decidiram modificar o seu código genético para aparecerem todos juntos como «socialistas de esquerda». Mas, grosso modo, na antecâmara, mantêm viva a sua natureza ideológica. Uma parte – o PSR – ainda edita a revista O Combate, é membro da IV Internacional Comunista e organiza-se na associação política socialista revolucionária. Outra parte, mantem-se fiel às suas origens através da associação UDP que edita a revista A Comuna. A terceira parte – os ex-militantes do velho PCP – organizam-se no Fórum Manifesto e editam a revista Manifesto. (A Secção Portuguesa da Liga Internacional dos Trabalhadors - Quarta Internacional , Ruptura/FER, também mexe).
Com esta «modificação genética», escondendo que tipo de sociedade quer instaurar (no fundo, mais do mesmo: o partido único, o Estado detentor de todos os meios de produção, a lei e a ordem da «classe operária»), o Bloco, ainda sonha com os amanhãs que cantam: «A estratégia do BE é destruir o actual mapa político português para polarizar um campo novo que lute pelo socialismo (…) Podemos e queremos ter a maioria. As grandes ideias da política socialista que defendemos concretizam-se em programas de governo. Quando tivermos a responsabilidade de uma maioria de mudança estaremos prontos a assumi-la por inteiro.» (Francisco Louçã em entrevista ao DN).
Mas o actual estado transgénico do Bloco não vai durar eternamente. Mais cedo ou mais tarde (mais 4 ou 5 desastres eleitorais) a modificação genética solidifica-se e, então, abraçam as «migalhas do poder» com o entusiasmo de quem tem um brinquedo novo ou voltam ao seu estado natural, assumindo o verdadeiro código genético. Neste momento, há sinais para ambos os lados: o «acordo» de Lisboa e a acção «ambientalista», em Silves, são os dois exemplos mais evidentes, mas a discussão interna «fugir do poder ou fugir das responsabilidades» não é de desprezar.
Estamos cá para ver.
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