Onde se misturam corvinas e chineses.
O Expresso do último sábado noticiava que Maria José Nogueira Pinto, de novo à frente do projecto de reabilitação da Baixa-Chiado, agora pela mão do PS, quer acabar com as lojas chinesas na Baixa de Lisboa. Esta «ideia» pouco fica a dever à «ideia» das amêijoas e das corvinas de Sá Fernandes. Para além de poder ser interpretada como xenófoba (os partidários de Sá Fernandes já escreveram: «a Câmara ter uma “comissária” para a Baixa-Chiado, que já pela segunda vez dá provas da mais bafienta xenófobia é, no mínimo, desprestigiante para uma cidade que se quer moderna, cosmopolita e desenvolvida»), a «ideia» só é concretizável, a curto prazo, violando as mais elementares regras de mercado e violando a Constituição. Ou seja, impedindo (ilegalizando) a compra, o arrendamento ou o trespasse na Baixa a um determinado tipo de comerciantes, em função da nacionalidade (chineses) ou do objecto do comércio (produtos chineses). É óbvio que se trata de uma tonteria. A Baixa lisboeta está degradada, a todos os níveis, e é apenas um ponto de passagem. A restauração definha em qualidade e até a Loja das Meias sucumbiu por falta de clientes, por exemplo. As boas marcas e o comércio de qualidade não querem a Baixa e, por isso, a compra, o arrendamento e os trespasses são baixos em relação a outras zonas da cidade. Só a requalificação daquele território, em função dos desejos, dos hábitos e das necessidades das pessoas (e não em função de «projectos» saídos da cabeça de «iluminados»), que dê nova vida à Baixa, irá permitir a valorização dos espaços físicos, da procura e do comércio, e então, haverá uma selecção da oferta e da qualidade. Um dos males do nosso «planeamento» passa, em primeiro lugar, pela noção de que nunca se executará; em segundo lugar, pela (ir)responsabilidade dos «responsáveis» em função dos resultados. Assim, podemos brincar à vontade às cidades, ao planeamento, etc. O último a sair que apague a luz.