segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

||| Venezuela, e agora? (2)

Vamos ver se nos entendemos sobre o que se passa na Venezuela. Hugo Chávez decidiu levar o país para o «Socialismo do Século XXI». Ora, este tal «Socialismo» não é diferente do que já foi experimentado durante o século XX em várias latitudes. No caso concreto, a matriz a seguir é a do «socialismo» cubano. Não há alternativa, apesar das fitas de natal com que querem apresentar o embrulho. Chávez, até ontem, pensou que ia lá chegar através de eleições. E porquê? Por acreditar na via democrática? Não! Apenas, porque uma parte considerável das Forças Armadas da Venezuela não aceita outro percurso. O general Baduel, ex-ministro da Defesa de Chávez, não é uma voz isolada contra Chávez. É o rosto de umas Forças Armadas indisponíveis para aventuras anti-democráticas. Ontem, se Chávez se precipitasse, se não reconhecesse o resultado do referendo, tanto podia ser derrubado de imediato, como eclodir uma guerra civil de resultados imprevisíveis. O discurso manso destinou-se apenas a conter as espingardas que se contavam nos quartéis. Chávez, ontem, deu um passo atrás a pensar que, amanhã, pode dar dois em frente. Mas, uma coisa é certa: mais de metade da Venezuela não quer seguir o rumo proposto por Chávez; e também, mais de metade das Forças Armadas. Chávez sabe isso, melhor do que ninguém. A via democrática para o «socialismo» é o único caminho que lhe resta (e para tal conta com parte considerável dos 3 milhões de pobres e desempregados que vivem em barracas ao redor de Caracas, bem como com a memória de uma democracia partidária que se desfez na incompetência e na corrupção). A alternativa é ser derrubado, num ápice, pelos militares fiéis à democracia ou a guerra civil. Vamos ver quais os efeitos do resultado de ontem nos próximos tempos.
(Adenda: sem ironia, Nuno Ramos de Almeida devia passar uma semana em Caracas, incluindo um Domingo (quando Chávez fala num canal de televisão durante 6, 7 ou 8 horas). Falar com taxistas, prostitutas, desempregados, professores universitários, comerciantes portugueses, militares e demais gente da rua. E, depois, no regresso, gostava de ler o que escrevia sobre a viagem.)