terça-feira, 15 de janeiro de 2008

||| Alma portuguesa.

O Governo falhou na previsão da inflação no ano passado. O falhanço situou-se em 4 décimas, dizem-me. O erro, traduzido por miúdos, é o seguinte: por cada 10 euros que gastamos lá se vão mais 4 cêntimos. É muito para uns; é pouco ou nada para outros. Mas, o que me leva a tocar neste assunto não é essa diferença. É, sobretudo, a satisfação que me dá viver num país que aponta o dedo a um governo que tem um erro de 4 décimas na previsão da inflação. Eu vivi num país – o mesmo que hoje discute 4 décimas – com uma inflação de 27.3 % (1977), em que baixar mais de 5% de um ano para o outro era quase indiferente (22.1 %, em1978). Vivi num país em que, há pouco mais de vinte anos – no ano da integração na União Europeia – só num ano se reduziu a inflação em quase 8% (1985 – 19,3; 1986 – 11,7%), e em que a margem de erro se situava em números inteiros. Em 1990, 5 anos depois de governo de Cavaco Silva, a inflação ainda se situava acima dos 13%. E baixar 2% no ano seguinte já foi obra. A integração europeia e a adesão ao Euro permitiram-nos atingir os valores de inflação dos nossos dias, entre 2 e 4 %. É bom, muito bom, que se discutm as 4 décimas. E melhor seria que exigíssemos deflação, como alguns defendem, em vez de inflação. Mas não me venham com a conversa de que isto cada vez está pior ou de que esta é uma conversa «situacionista». São números. São evidências.