domingo, 27 de janeiro de 2008

||| A luta da memória contra o esquecimento.

Em 1976, um jovem comunista soviético, de seu nome Sergei Yastrzhembskiy, aprendeu português e trabalhou numa tese dedicada à «Revolução Portuguesa». Inevitavelmente, «encontrou» no caminho Mário Soares e se interessou pela personagem («as suas posições face à sociedade e à política não podiam deixar de me interessar enquanto investigador»). Deste interesse nasceu, em 1981, um livro que foi publicado com uma tiragem de 300 exemplares e divulgado sob a chancela «para uso interno», como conta o autor. A editora Temas & Debates acaba de publicar o dito texto sob o título Mário Soares e a Democracia Portuguesa Vistos da Rússia. É um texto interessante, sobretudo do ponto de vista da memória. Transcrevo um parágrafo para situar a óptica do autor: «Confrontam-se duas tendências opostas: a escalada da ofensiva reaccionária contra as conquistas progressistas da revolução de Abril e a luta da esquerda e das massas populares em defesa do que então se conseguiu. (…) Foi precisamente durante a governação do I Governo Constitucional dos socialistas que se enveredou pelo caminho da redução dos direitos económicos dos trabalhadores e progressivamente pela suspensão das conquistas do 25 de Abril
A leitura deste texto, agora transformado em livro, de Sergei Yastrzhembskiy, faz-nos avivar a memória dos anos 1974-1980 e, sobretudo, comparar o que hoje se diz sobre os mesmos temas: ataques aos direitos sindicais, restrições das liberdades dos trabalhadores e por aí fora. O PCP não mudou, e todo o mérito lhe é devido por isso. Diz sempre a mesma coisa a partir da «análise da luta de classes». Mas podemos comparar os outros protagonistas de ontem. Nalguns casos é interessante constatar, na óptica dos comunistas, como os «reaccionários» de há 30 anos se transformaram nos «progressistas» de hoje. Cito, por exemplo: «O diploma que provocou a maior indignação e resistência dos trabalhadores foi a Lei Barreto, que previa sérias restrições das conquistas dos trabalhadores rurais da zona da reforma agrária. A lei em questão condenou ao desemprego três em cada quatro trabalhadores rurais das províncias do Alentejo e Ribatejo.» Restringir as conquistas dos trabalhadores e lançat no desemprego 75% dos trabalhadores rurais da zona da reforma agrária é obra! Vale a pena ler este livro de Sergei Yastrzhembskiy, cuja publicação em português foi sugerida por Mário Soares. Voltarei ao tema.