sábado, 23 de fevereiro de 2008

||| A entrevista [2]

«Propaganda, dizem as críticas. Mas esperar-se-ia que um chefe de Governo fosse à televisão fazer o trabalho das oposições? E aqueles génios do comentário político que, por sinal, vêm dos partidos mas se arrogam mais independência e autoridade do que todos os outros, quererão que os jornalistas tenham o condão de obrigar Sócrates a dizer o que não pensa e o contrário do que lhe convém?
Houve quem se tivesse voltado para os aspectos pessoais e anímicos, dizendo de Sócrates que é um homem seco e sem alma, de índole tecnocrática e incapaz de estabelecer empatia com as pessoas. Mais ou menos o mesmo que certa “inteligência” dizia de Cavaco nos anos 90. Pois a desgraça da direita e a frustração da velha esquerda em relação a Sócrates resultam precisamente desse equívoco antigo e irresolúvel: esperavam uma espécie de Guterres e saiu-lhes, com as suas diferenças e sem ofensa para qualquer deles, uma espécie de Cavaco. Por isso lhes custa, como lhes custava com Cavaco, compreender porque é que, apesar de tantos defeitos, de tanta contestação e de tantas dificuldades, o primeiro-ministro manter ainda os índices de popularidade que mantém
Uma espécie de Cavaco, Fernando Madrinha, Expresso, 23.02.09. (Sublinhados meus)