quarta-feira, 23 de abril de 2008

||| Quem me avisa meu amigo é?

O «Tratado de Lisboa» (ou o que quer que seja, já que 99,9% dos portugueses, tal como eu, não o leram) foi aprovado na Assembleia da República. Avisam-me que isto é uma maldade. E porquê? Porque a «perda de soberania» devia ser submetida a referendo. E quem me avisa sobre a «perda de soberania»? Exactamente os mesmos que, em 1968, exigiram (ou aplaudiram) a entrada dos tanques soviéticos nas ruas de Praga, espezinhando a soberania checoslovaca. E quem me avisa sobre a necessidade de referendar o «tratado»? Os mesmos que há pouco mais de um ano não queriam que se realizasse um referendo sobre a despenalização do aborto (depois da rejeição num primeiro referendo), mas a aprovação da lei na Assembleia da República. Afinal, quem me avisa não acredita que o muro de Berlim caiu, como não acredita na corrupção em Angola. Outros, ainda, avisam-me que, mesmo sem referendo, o «tratado» devia ter sido mais «discutido». Pergunto: por quêm? Por meia dúzia de «especialistas», em linguajar hermeticamente fechado, nos Prós e Contras ou na Casa do Povo da Marmeleira? E, por aqui me fico, com uma frase obreirista de um velho caldeireiro da Lisnave: não recebo lições de quem sabe mais do que, mas de quem faz melhor do que eu.