sexta-feira, 2 de maio de 2008

||| Maio, maduro Maio [2]

Menos de 40 anos depois da morte de Karl Marx (e vinte e poucos anos depois da morte de Engels), consumou-se a primeira tomada do poder pela «classe operária», concebida e dirigida por Lenine. Em 1917, na Rússia czarista e feudal. Trinta e poucos anos depois, em nome da Marx e Engels e com os contributos de Vladimir Ilitch Uliânov, consumou-se a segunda tomada do poder pela «classe operária». Em 1949, na China imperial e feudal. O que unia, no começo do século XX, a Rússia e a China, era modo de produção asiático, como o próprio Marx caracterizou. Asiático e feudal, na China, feudal e asiático, na Rússia. Marx concebeu a revolução proletária como consequência natural do modo de produção capitalista. Na Inglaterra, na Alemanha, na França. Aqui, a revolução industrial tinha produzido uma classe operária despojada de tudo, maioritária entre todas as classes sociais e que nada tinha a perder senão as amarras à miséria e à opressão. Mas, por ironia do «destino», as revoluções «proletárias», em nome de Marx, aconteceram em países com uma classe operária residual e quase inexistente. O resultado não podia deixar de ser o que foi. Por isso, não é de estranhar que os partidos comunistas que encabeçaram estas duas revoluções, cada um num momento próprio, tenham concluído que era necessário fazer marcha atrás e desenvolver, primeiro, o modo de produção capitalista, como etapa necessária para a iniciar a construção do socialismo. (o próprio Lenine tinha chegado a esta conclusão e, por isso, lançou a Nova Política Económica, abortada por Staline com o fuzilamento de milhões de camponeses). O PC da URSS, com Gorbachov, não se considerou capaz de dirigir o processo de desenvolvimento capitalista e entregou o poder a quem fosse capaz de tal tarefa. Ao contrário, o PC Chinês considerou que era capaz de dirigir a etapa do desenvolvimento capitalista. É necessário desmistificar o óbvio: a «ditadura do proletariado» em sociedades praticamente sem classe operária foi, quer num caso, quer noutro, a ditadura de um partido e não a ditadura de uma classe. Mas, agora, no século XXI coloca-se uma questão nova: onde é que está a classe operária do século XIX, a classe operária analisada por Marx? Os comunistas portugueses, a avaliar pelo eixo de gravidade das suas lutas, acham que a «nova» classe operária são os trabalhadores da Função Pública, maxime os professores. Ainda não perceberam que Cristo morreu, Marx também e eu próprio já não me sinto nada bem ....
(PS: estes textos - Maio, maduro Maio - são a resposta a algumas questões que me são colocadas por email.)