Caldeirada à Caldas
Paulo Portas gosta muito de jogar às escondidas ou à apanhada. Tanto lhe faz: esconder-se ou ser apanhado. Nos últimos anos deixou-se mais apanhar do que se escondeu. Em 2001, disse com voz grossa, aquando das eleições para a Câmara de Lisboa: «Eu fico!». Mentira. Assistiu a 2 ou 3 sessões de Câmara como vereador e foi-se embora para o Governo. Obviamente, era mais importante (para ele) ser membro do Governo do que vereador. Como para o «outro» foi mais importante (para ele) ser presidente da Comissão Europeia do que primeiro-ministro. Comportou-se como se os eleitores fossem uma cambada de mentecaptos. Mas foi mais uma vez apanhado: os «mentecaptos» não apreciaram o «homem de estado» e deram-lhe sopa nas eleições legislativas de 2005. Frustrado com os resultados eleitorais, quase como quem cumpre um triste fado, fez o número do «desgraçadinho» na esperança de que, mais cedo ou mais tarde, isso lhe rendesse umas moedinhas: abandonou a presidência do CDS/PP. Mediu dia a dia o seu regresso. Passados dois anos decidiu voltar. Pensou com os seus botões, e disse, eufórico: este Marques Mendes é um nabo e o centro direita está desocupado. Arregaçou as mangas e foi para o centro cultural de Belém dar uma conferência de imprensa. Mas, como qualquer criança mimada, quis o «brinquedo» mal o desejou. Não soube esperar, nem respeitar as regras do jogo. O resultado da «birra», ontem, em Óbidos, foi simplesmente degradante. Mostrou, sobretudo a quem ainda tinha ilusões sobre a personagem, o que vale e o que é Paulo Portas. Pode, depois de um congresso extraordinário e de eleições directas, reocupar a presidência do seu partido, mas ontem ficou politicamente ferido de morte. Em tempo: O que se passou ontem em Óbidos, na reunião do conselho nacional do CDS/PP, que me recorde, só foi suplantado, em 1974, no teatro Vasco Santana, a Entre-Campos, aquando da eleição da direcção da associação de amizade Portugal-China, entre facções do PCP(m-l), envolvendo as tendências Mendes e Vilar. Aí houve mesmo facadas.
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