quinta-feira, 26 de abril de 2007

Citações.

Uma cooperação pouco estratégica, Constança Cunha e Sá, Púlico de hoje:
«Seria curioso reler, agora, os inúmeros textos apologéticos que se escreveram, há um ano, quando o actual Presidente da República se estreou, no Parlamento, com um discurso frouxo e demagógico sobre a "exclusão social". Da habilidade táctica do orador, à importância única do tema, passando pelos efeitos grandiosos dessa sua primeira intervenção, tudo foi devidamente escalpelizado pelo entusiasmo fácil dos que se deixam levar pelos altos desígnios que supostamente animam a retórica de um homem providencial. Basta lembrar que houve quem considerasse que esse piedoso conjunto de banalidades era o mais importante discurso que alguma vez havia sido feito depois do 25 de Abril!Com o tempo, o entusiasmo naturalmente esfriou: os "roteiros" sobre a exclusão acabaram por se diluir numa série de iniciativas inconsequentes, polvilhadas de boas intenções e de lugares-comuns inevitáveis; e a "cooperação estratégica", essa prometedora inovação presidencial, tem brilhado secretamente nos bastidores do Estado, sem quaisquer resultados visíveis que se possam avaliar. Já, as recomendações públicas que acompanham invariavelmente a promulgação de algum diploma mais controverso, o Governo faz o favor de as ignorar, como aconteceu, presentemente, com a lei sobre o aborto, ou, no passado, com a colecção Berardo.Não é, portanto, de estranhar que, um ano depois da sua "fulgurante" estreia, o Presidente se tenha apresentado, ontem, na Assembleia da República, com umas dúvidas soltas sobre as comemorações do regime e umas frases comoventes sobre os jovens de sucesso que ele, para surpresa dos portugueses, encontra, por aí, prontos a ser observados, em todas as esquinas do país. É natural que alguns exegetas, atentos a todos os "sinais" emitidos de Belém, descortinem dois ou três "recados" cirúrgicos numa intervenção que se distinguiu pela irrelevância das dúvidas e pela vacuidade das considerações. Infelizmente, o discurso do Presidente da República, por si só, encarrega-se de diluir higienicamente qualquer significado político que lhe queiram, à viva força, atribuir

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