Ernest Hemingway e a anedota do DN.
O DN de hoje, assim como quem não quer a coisa, na última página, dá a notícia breve de que Ernest Hemingway – um dos meus escritores preferidos – teria afirmado (e escrito numa carta) que, em 1944, integrado como oficial no 22º Regimento da IV Divisão de Infantaria dos EUA, matou a tiro 122 prisioneiros alemães. Depois de Günter Grass ter assumido a sua participação nas SS só me faltava esta. Mas, como é hábito no jornalismo de meia bola e força, a pequena notícia do DN fica-se pelo folclore do “escândalo”: não diz que esta “novidade” está num livro de anedotas sobre escritores da autoria do jornalista alemão, Rainer Schmitz. Anedotas – repito. Outra coisa que o jornalismo despreocupado do meio bola e força não diz é que o próprio autor do livro considera que provavelmente se trata de fanfarronices do escritor e que essa “notícia” já tinha sido publicada, sem qualquer relevância, nos Estados Unidos, em 1992, num artigo da A Life Without Consequences, assinado por James Mellow. Aliás, o jornalista alemão conta ainda que Pablo Picasso não acreditou nessa história quando Hemingway a contou durante um jantar. "Isso é mentira" — disse Picasso na cara do norte-americano. Afinal de contas o jornalismo do meio bola e força transforma uma anedota numa notícia séria. Vejam lá se trabalham um pouco mais que a produtividade em Portugal está muito baixa.
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