Lua-de-mel no Irão.
«Esta vergonha preta, tanto medo e tanta ira e tantas mortes. Depois da revolução, o Imã mudou a lei para que as raparigas pudessem ser executadas aos nove anos; para os rapazes a idade de execução é aos dezasseis anos. E pior... - ergue o braço e pousa as pontas dos dedos sobre os olhos -...já ouviu falar do casamento mut'a? - Pergunto-lhe se está a referir-se aos casamentos "temporários", essas disposições sancionadas pelo Estado que podem durar apenas vinte e quatro horas: são conhecidas pela designação de "prostituição legal".
- Sim - suspira ela, e volta a pousar o braço em cima da cara. Fala suavemente, lentamente, monotonamente. - Eles usavam o mut'a antes das execuções. Nos primeiros tempos da revolução, muitos milhares de raparigas foram presas por serem apoiantes dos grupos de oposição ou por violarem o código islâmico, e condenadas à morte. Aquela gente, aqueles fanáticos, acreditam que uma rapariga que é virgem vai automaticamente para o céu, por isso faziam casamentos mut'a com os guardas da prisão, e esses homens - "maridos" temporários - violavam as raparigas antes de elas serem executadas. E esses homens... - volta-se e diz, com o maxilar tão rígido, que parece de madeira - ... falam de Deus.»
Lua-de-mel no Irão, Alison Wearing (Gótica, 2001).
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