Véus versus topless.
(Fotografia de Jordan Matter, times square, NY.)
A partir de um texto de Joana Amaral Dias sobre o véu islâmico, no seu estilo pueril, preconceituoso, ligeiro e panfletário, o 5 Dias, através de textos de António Figueira e Nuno Ramos de Almeida, tem esgrimido argumentos bem interessantes, num e noutro sentido, sobre o assunto. O meu olhar sobre esta questão (e já aqui deixei opinião) aproxima-se mais dos argumentos já aduzidos por António Figueira. Hoje, Nuno Ramos de Almeida vem à liça com novos argumentos, os quais assentam, no fundo, em duas premissas, a saber: primeira, os governos que estão a proibir o uso do véu às mulheres muçulmanas na Europa fazem-no alicerçados em dois princípios errados – um: há culturas superiores (a europeia, cristã) e culturas inferiores (a muçulmana); dois: não compete ao Estado fiscalizar o vestuário de cada um. Essa deve ser uma escolha livre, ou seja, se uma mulher muçulmana quer andar de véu não deve ser o Estado a proibir essa opção, como não deve obrigar-me a andar de gravata. De onde conclui que a proibição não é mais do que uma espécie de represália ocidental integrada na luta “contra o terrorismo” numa desastrosa confusão entre muçulmanos e terroristas. Colocada assim a questão até parece que faz sentido ou, pelo menos, parece fazer sentido a quem defende certo tipo de valores. Mas é só na aparência! Na realidade não faz nenhum sentido. Senão vejamos: um dos argumentos usados pelo governo holandês foi a segurança. Não parece displicente o facto de alguém entrar numa carruagem de metro, num autocarro ou num supermercado, cujas vestes, das sandálias à cabeça, não permite identificar se é homem se é mulher, se transporta ou não um embrulho, uma arma, um explosivo. É evidente que, perante a realidade actual do terrorismo, de que os casos de Madrid e Londres não deixam dúvidas, se apodera da maioria das pessoas um sentimento de insegurança. (Isto têm a ver com o “mapa dos medos”. Por exemplo, em Lisboa, em regra, as pessoas têm medo de ser assaltadas precisamente nas zonas onde há menos assaltos). A questão que se deve colocar é a seguinte: os governos devem ou não actuar, nestas circunstâncias, face a um sentimento generalizado de insegurança dos seus concidadãos, devido ao uso de determinado vestuário? Não se trata de proibir ou não o uso da gravata. Não se trata de saber se é superior ou inferior andar de mamas ao léu ou de rosto tapado. Não se trata de uma questão de choque de culturas ou de religiões. Trata-se, apenas, e tão só, de um sentimento de segurança ou de insegurança. O que se pode discutir aqui é uma hierarquia de valores a defender em casos de conflito. É natural que, qualquer governo, nesta conflitualidade, opte a favor dos sentimentos da maioria e esta, na Europa, são os europeus. A outra questão suscitada por Nuno Ramos de Almeida é deveras melindrosa: como avaliar que a mulher muçulmana enverga aqueles trajes de livre vontade ou se é obrigada devido a uma brutal repressão? Ou, pelo menos, devido a uma brutal repressão em relação à maioria das mulheres muçulmanas. Há aqui pano para mangas. E, depois, ainda há, nas relações internacionais, o princípio da reciprocidade. Por exemplo, em Nova Iorque é permitido o topless nas ruas da cidade. Nos países muçulmanos será permitido a uma nova-iorquina andar de mamas ao léu pelas ruas de cidades muçulmanas? Não? Porquê? Eles proíbem o topless! Mas nós não podemos proibir o véu. Mas, porquê? Somos uma cultura inferior? Laxista? Em decadência? Ou apenas temos uma cultura suficientemente tolerante que permite às outras culturas fazerem o que eles não nos permitem a nós? Apesar de ser uma caricatura, a verdade é esta.Mais véu, menos véu pouco importa. O que importa é a tolerância e a convivência e não me parece que tenhamos que receber lições de ninguém, pese embora a II guerra mundial e outrass barbáries de que a Europa foi palco e actriz.
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