Memórias (3)
«Muito céptico sobre a bondade intrínseca da espécie humana, não acreditava em coincidências e, portanto, apreciava alinhar os factos - nomeadamente a política e a economia - numa ordem lógica de causa e efeito, em que a impressão digital do culpado conduzia ao devido apuramento de responsabilidades. A lucidez com que se permitia antever, e acertar , por exemplo, na inversão dos ciclos económicos, dava--lhe um enorme prazer intelectual. Não viveu o suficiente para confirmar, in loco, o acerto da última das suas profecias políticas, feita alguns dias antes da partida, no andar da Travessa do Pinheiro, à Estrela, onde até a desarrumação de livros, jornais e revistas parecia programada ao pormenor. Nesse derradeiro encontro de amigos, o Vítor antecipou, com um rigor hoje impressionante, o futuro do Governo de António Guterres e do próprio primeiro-ministro, relacionando-o com um agravamento da conjuntura económico-financeira que, na altura, parecia impensável.»
Mário Bettencourt Resendes, A grande conspiração (texto sobre Vitor Cunha Rego) (DN 29.10.04 ).
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