sexta-feira, 22 de junho de 2007

Dissidências.

Depois de escrever este meu post, em conversa com o meu amigo Manuel, antigo militante comunista (recordam-se de «Breves notas sobre a revolução de 1917 e Portugal», Vida Soviética, n° 30, de Novembro do 1977) dizia-lhe: a minha opinião é, por razões opostas, igual à do partido, mas não é por isso que deixo de ter essa opinião. Hoje, o Avante, pela pena de José Manuel Jara, a propósito do mesmo assunto – o livro de Raimundo Narciso Álvaro Cunhal e a dissidência da terceira via – cita Álvaro Cunhal: «Álvaro Cunhal, no período agudo de turbulência interna do PCP de 1987 e 1988, que culmina no XII Congresso de 1 de Dezembro de 1988, caracterizou a situação política interna do partido como sendo expressão da «crise da consciência comunista de alguns militantes», mais do que uma crise do Partido.» Claro que têm razão, tanto Álvaro Cunhal, como Jara. E no que é que essa razão se traduz? É simples: o reconhecimento do totalitarismo (não uma ditadura de classe, como faziam crer, mas a ditadura de esquizofrénicas nomenclaturas partidárias, de Moscovo a Havana), do logro do «socialismo soviético» e da pobreza que sempre gerou e a impossibilidade de qualquer mudança interna, levaram à «crise da consciência comunista». Obviamente! Mas essa «crise», que corresponde a um outro olhar sobre o mundo, significa a conclusão de que os partidos comunistas não representam os defensores da democracia, da liberdade, do bem-estar dos povos. Representam-se a si próprios – uma empedernida nomenclatura partidária. E, por isso, por não representarem ninguém, apenas podem exercer o poder em ditadura - contra todos. Em suma: os «dissidentes» mudaram: compreenderam a natureza totalitária do partido e do seu projecto de sociedade; o partido, esse, não mudou.