O homem novo ou a felicidade paradoxal.
«Em apenas algumas décadas, a affluent society abalou os modos de vida e os costumes, instituiu uma nova hierarquia de objectivos, assim como uma nova relação do indivíduo com as coisas e o tempo, consigo próprio e com os outros. A vida no presente sobrepôs-se às expectativas do futuro histórico, e o hedonismo, às militâncias políticas; a febre do conforto ocupou o lugar das paixões nacionalistas e os lazeres substituíram a revolução. Apoiando-se na nova religião da melhoria contínua das condições de vida, o melhor-viver tornou-se uma paixão das massas, o objectivo supremo das sociedades democráticas, um ideal exaltado em cada esquina. Raros são os fenómenos que conseguiram mudar de forma tão profunda os modos de vida e os gostos, as aspirações e os comportamentos da maioria das pessoas num período de tempo tão curto. Nunca teremos verdadeiramente a noção de quanto o homem novo das sociedades liberais «deve» à invenção da sociedade de consumo de massa»
( Gilles Lipovetsky, A felicidade paradoxal, Edições 70)