quinta-feira, 19 de julho de 2007

Rupturas.

As eleições em Lisboa tiveram o mérito de ampliar os sinais de que o sistema político-partidário português está anquilosado. O PS e o PSD, que representaram, nos últimos 30 anos, entre 70% e 80% do eleitorado, alternaram-se invariavelmente no Governo sem diferenças significativas de políticas, objectivos ou metodologias. Até os aparelhos partidários se assemelham. Há apenas nuances «ideológicas», cujas fronteiras se diluem cada vez mais. Isto significa que começa a haver espaço político-eleitoral para experiências «alternativas». O pessoal sente-se agrilhoado e começa a estar disponível para partir as amarras. Não vale a pena meter a cabeça debaixo da areia: os 10% obtidos por Helena Roseta podem ter esse significado. O resultado obtido por Carmona Rodrigues, também, embora este, em princípio, represente mais um «fenómeno local», na linha de Fátima Felgueiras, Isaltino Morais ou Valentim Loureiro. Mas o «essencial» está lá: o descontentamento com o status quo partidário. O PCP e O BE não são «tubo de escape» à esquerda social. Como não o são Paulo Portas ou Santana Lopes à direita. Mas, há indícios de que se aproximam tempos de mudança se o PS e o PSD persistirem em dar mais do mesmo. E o terreno é propício à demagogia e ao populismo. Dentro de dois anos há eleições autárquicas e legislativas. Vamos ver, dia a dia, como vão evoluir os «tubos de escape», quer à direita, quer à esquerda.
(imagem: Pedro Garcia Espinosa, pintor cubano, acrílico sobre tela,121x100 cm.)

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