Os que não mudaram, 2
A propósito de livros cuja leitura não muda a vida do seu leitor, ocorre-me o seguinte: um dia, há muitos anos, ao fim de uma manhã de primavera, um amigo meu estava dividido entre ler um pequeno livro (quando conta a história refere sempre o livro: Boneca de Luxo, de Capote) ou ir passear junto ao Tejo. Optou pela segunda hipótese. Nesse passeio foi atropelado ao fim da Rua do Alecrim, sob o olhar complacente e liberal do Duque da Terceira. Passou umas semanas num hospital e ainda hoje coxeia. Ele costuma dizer: «há leituras que mudam a nossa vida sem sabermos».