||| A democracia, essa eterna amante. [3]
Quando, hoje, se fala nos «ataques à democracia» vem-me à memória as múltiplas «brigadas comunistas» que tentaram impedir-me de chegar, no Verão de 1975, à Fonte Luminosa. Sem sucesso, como sem sucesso foi a vida política de Álvaro Cunhal – um mito dos comunistas portugueses que teve o azar de não acertar uma única vez. A sua primeira falta de visão histórica foi a posição que tomou na ruptura do movimento comunista internacional, nos anos 60. Optou pelo PC da URSS em detrimento do PC Chinês. Hoje, o resultado dessa «visão» está à vista: a URSS desmoronou-se e o PC da URSS desapareceu, enquanto os herdeiros de Cunhal vão acarinhando o PC Chinês. Deve ser duro de engolir depois do que disseram dos comunistas chineses nos anos da cisão. Essa falta de visão repetiu-se em 74/75. Cunhal imaginou-se um novo Lenine capaz de transformar a «revolução burguesa» em «revolução proletária». Até viu em Mário Soares o Kerensky cá do sítio. Não entendeu os tempos e, por isso, ganhou o passaporte para o anonimato histórico. A sua falta de visão levou-o à derrota. Nos anos a seguir ainda teve a «visão» que era possível manter as nacionalizações, o conselho da revolução e outras «conquistas da revolução», mas o que lhe saiu na rifa foi a queda do muro de Berlim. Hoje, os seus herdeiros, arcando esta pesada herança de falta de visão e de insucessos, persistem no erro, espalhando aos sete ventos que estamos à beira de uma ditadura. Confundem desejos com realidade. Uma coisa é o aperfeiçoamento da democracia e a melhoria das condições de vida de todos os portugueses. Outra, bem diferente, são as soluções alternativas à democracia – as ditaduras. E as soluções do PCP são, comprovadamente, soluções ditatoriais.